3 de junho de 2010

Comunicação III


Texto: Comunicação e socialização

No percurso elaborador da cultura, o homem baseia-se necessariamente em sua capacidade de se comunicar. Comunicação e cultura interpenetram-se tão intimamente que é difícil saber onde ficam os limites entre uma e outra. Por isso, vamos agora refletir sobre a comunicação, procurando-lhe o alcance e a importância.

Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser “membro” de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso acontece indiretamente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que “convinha”. Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores da escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua, nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os meios de comunicação social.  Esses meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual que, às vezes, esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista de atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente, desde o “bom-dia “ à sua mulher acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com a mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: “boa-noite”.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que nos comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante logos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.
A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.
 (DIAZ BORDENAVE, Juan. O que é comunicação São Paulo: Nova Cultura/Brazilense, 1986. p. 17-9.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog

Seguidores